A discussão sobre o cuidado com a saúde mental da criança no âmbito escolar foi dividida em três momentos, seguindo a proposta dos objetivos da pesquisa e o problema norteador da pesquisa. Inicialmente abordou-se sobre a saúde mental e, na sequência discutiu-se sobre a atuação da escola na saúde mental da criança, seus elementos de prevenção e promoção, bem como fatores que podem levar ao adoecimento. O último tópico de discussão foi direcionado aos meios disponibilizados para a promoção e prevenção da saúde mental da criança.
O SUS têm um amplo conceito sobre saúde, incluído o cuidado à saúde mental, no entanto, esse entendimento não é “naturalizado pelos profissionais de saúde que compõe esse sistema”, fazendo prevalecer o paradigma biomédico (GAINO et al., 2018). Por vezes os cuidados a saúde mental são deixados em segundo plano para focar na dimensão biológica.
O conceito de saúde mental é complexo, carregando suas influências nos contextos sociopolíticos e nos avanços de práticas em saúde. Sobre a Saúde mental, De Souza e Baptista (2017, p.209) argumentam que “[…] é o estado que permite ao indivíduo o aproveitamento total de suas capacidades cognitivas, afetivas e relacionais, o enfrentamento de dificuldades na vida, a contribuição para ações em sociedade e a produção no trabalho.” A partir dessa argumentação verifica-se a complexidade da saúde mental, devido a diversidade de fatores que podem contribuir para a sua manutenção ou desestabilização.
Agilar (2018, p.12) argumenta que “a saúde mental no decorrer dos anos alcançou um olhar diferenciado na atenção psicossocial, ganhando espaço nas políticas públicas, tanto para a sociedade como para os profissionais da área”. Na atual sociedade a saúde mental apresenta-se em evidência, fragilizada pela rotina e vida cotidiana do brasileiro. Ao se falar de saúde mental entende-se que “envolve a qualidade em como se lida com os próprios pensamentos, sentimentos e emoções durante o dia, nas atividades e nas relações com as pessoas, diariamente” (INSTITUTO AGENDA POSITIVA, 2020, p.01).
A partir da discussão, depreende-se que o conceito de saúde mental deve ser visto de maneira mais ampla, buscando-se sempre a historicidade da doença mental como um todo. Deve-se considerar, ainda, as manifestações desse adoecimento nos diversos espaços vividos pelo indivíduo, ressaltando que a saúde mental transpassa aspectos sociais, econômicos, culturais e ambientais. Dentro deste contexto surge uma discussão específica, a saúde mental da criança.
A saúde mental infantil é um tema complexo e multifacetado, visto que a sua compreensão e entendimento depende da análise de fatores comportamentais, sociais e emocionais (CID et al., 2019). Tais alterações devem ser acompanhadas por aqueles que estão próximos da criança, comumente os pais e professores, quando em idade escolar. Uma saúde mental equilibrada é importante para a criança, pois, de acordo com Santos e Celeri (2018, p.83) “os problemas de saúde mental interferem na qualidade das experiências precoces e, portanto, no desenvolvimento das potencialidades das crianças”.
Aguiar (2018) argumenta que, atualmente é comum o encaminhamento de crianças, pelas escolas ou levadas por familiares, aos serviços de saúde em busca de auxílio, devido a alterações comportamentais como agressividade, humor explosivo e passividade e com sintomas de ansiedade, depressão. Em muitos desses casos, o psicodiagnóstico é direcionado para transtornos psiquiátricos leves.
Os quadros de sofrimento psíquico em crianças são mais delicados, pois elas não sabem exatamente o que estão sentindo e como lidar com seus sentimentos e emoções (CID et al., 2019). Tudo é novo para nesta fase, tanto os sentimentos desagradáveis que surgem perante uma situação de tensão quanto a forma de se portar em relação a essas sensações de desconforto. A partir desta percepção, faz-se necessário o olhar atento para que, aos primeiros sintomas, sejam tomadas providencias oportunas.
Esse acompanhamento do desenvolvimento emocional e psicológico da criança se inicia no ambiente familiar (primeiro grupo social do indivíduo) e continua na escola, comumente, o segundo grupo social que a criança estabelece contato, depois do grupo familiar. Por isso, a saúde mental infantil deve ser acompanhada pelos pais e responsáveis, visto que a criança, por vezes, ainda não sabe lidar com determinadas emoções e sentimentos, acarretando problemas de saúde mental e interferindo nas experiências vivenciadas pelas crianças, prejudicando assim o desenvolvimento das potencialidades psicológicas, sociais e cognitivas da criança (SANTOS; CELERI, 2018).
Entretanto, nas famílias contemporâneas é comum pai e mãe trabalhem, tendo um contato restrito com seus filhos durante a semana. Nesses casos, as crianças que estão na fase escolar passam mais tempo com o professor e demais profissionais da escola do que com os pais, tornando o professor um elemento fundamental no acompanhamento da saúde mental da criança. Nesse sentido, as crianças que estão desenvolvendo alguns transtornos psiquiátricos, podem apresentar sintomas, por meio de alterações psicológicas, emocionais e comportamentais, no ambiente escolar e considerando que a criança, estará sempre sob a supervisão de um profissional da escola, comumente o professor, será mais fácil de identificar tais alterações.
Evidencia-se, portanto, que a escola é um espaço que deve atuar eficazmente na saúde mental das crianças, por meio da promoção e prevenção da saúde mental e identificação de transtornos psiquiátricos. O próximo tópicos abordar-se-á com mais ênfase sobre o assunto.
Para González Rey e Mitjáns (2017), toda escola se configura subjetivamente em processos que se articulam, de formas diversas, às configurações subjetivas de seus membros, aos discursos dominantes de suas práticas, as representações sociais de seus diferentes processos e o tipo de funcionamento das relações sociais em seu interior. A subjetividade, como elemento integrante da cultura, encontra-se implicada nos espaços sociais da escola.
O desenvolvimento subjetivo, mediado pela cultura, assim se constitui como um fenômeno humano, sendo qualitativamente diferenciado de outros tipos de processos psíquicos. A integração do simbólico e do emocional, nesse processo, dá sentido às vivências que a pessoa experimenta em suas interrelações com os outros, com os espaços sociais, bem como os artefatos culturais e as suas ações (GONZÁLEZ REY et al., 2016). Verifica-se, portanto que, tanto os sujeitos, quanto o espaço escolar são compreendidos dentro de um sistema que funciona de forma recursiva em relação à sociedade mais ampla.
Cid et al. (2019, p.4) comentam que “a escola é um dos principais contextos de vida de crianças e adolescentes na atualidade, possuindo assim, um caráter psicossocial relevante que deve ser assumido e explorado”. Verifica-se com isso que, o ambiente escolar é um espaço de surgimento de relações sociais, por isso deve ser monitorado, a fim de se evitar cenários de sofrimento e dor às crianças, pois é nas relações sociais infantis que se manifestam as primeiras inclusões e/ou exclusões sociais vivenciadas pelo indivíduo.
Sendo assim, as escolas são espaços privilegiados para a criação de ambientes favoráveis à promoção da saúde mental, estes elaborados de forma eficientes, possibilitam a produção de benefícios a longo prazo para os jovens, tanto no seu emocional quanto no social, garantindo um maior desempenho em sua vida escolar.
Artigo completo na fonte.
Fonte: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/psicologia/criancas-no-contexto
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