A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz ao longo dos seus textos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, a palavra protagonismo mais de 50 vezes em diferentes contextos. Seja se referindo às habilidades e competências, às áreas do conhecimento ou ainda a vida pessoal e coletiva dos estudantes, este elevado número de citações ao protagonismo reforça a necessidade de ações que possibilitem o desenvolvimento do papel do aluno como ativo em sua própria aprendizagem. Você já pensou o que essa palavra significa na prática?
O protagonismo do aluno e nossa prática pedagógica
Transpondo para a nossa prática educativa, protagonismo é permitir que o aluno seja o personagem principal do processo de ensino e aprendizagem, ou seja participando de todas as fases: o planejar, o executar e o avaliar.
Teoricamente pode parecer fácil, mas quem busca desenvolver este aspecto sabe o quanto é difícil. A grande maioria de nós, profissionais da Educação, acaba não criando espaços para que os alunos exerçam o tal do protagonismo. Quando vemos já damos tudo pronto, perguntando e respondendo ao mesmo tempo. Por isso, precisamos estar atentos para mudar esse quadro.
Promover o protagonismo é também uma questão de concepção de Educação. Quando a aprendizagem está conectada com a transmissão de conhecimentos e o professor é o centro do processo como aquele que detém o poder em diferentes sentidos, há pouco espaço para que situações de protagonismo sejam promovidas. Dentro dessa visão, os conhecimentos acabam fragmentados entre disciplinas e descontextualizados de sua aplicação na vida real.
De acordo com a Pirâmide de Aprendizagem, criada pelo psiquiatra William Glasser, quando o aluno participa de atividades nas quais pode debater, argumentar, contra-argumentar, explorar e (re)elaborar suas ideias, ele tem um aprendizado de 70 a 80%. Ao passo que enquanto o estudante apenas lê, escuta e enxerga atinge um aprendizado entre 10 e 50%.
Todos queremos que nossos alunos aprendam. Mas como estamos fazendo isso? Convido você a pensar nisso, principalmente neste início de ano letivo quando estamos traçando nossas ações.
Como fazer isso na prática a partir da ótica do protagonismo?
Como já conversamos aqui, é necessário dar voz e vez para cada um de nossos alunos, independente da área de conhecimento que está sendo trabalhada e a partir daí trazer intenção para a concepção de formação integral dos estudantes. É o saber ouvir as ideias do aluno, respeitando-as e dando-lhe o direito de se colocar com liberdade e sem medo de errar.
O trabalho com a resolução de problemas, dialoga perfeitamente com a prática que busca desenvolver o protagonismo das nossas crianças e jovens. Para somar exemplos, vamos conhecer seis situações práticas nas quais o protagonismo pode ser exercido:
- Planejamento do dia: essa é uma prática que vem da Educação Infantil e precisaria ter continuidade ao longo do percurso escolar. Nela se discute quais são as rotinas do dia e a ordem em que ocorrerão as atividades, podendo ser feita virtualmente também. É lógico que algumas não podem ser mudadas como a hora do recreio e da merenda. O fato dos alunos poderem escolher a ordem das propostas e quais propostas irão realizar no dia proporciona uma maior autonomia para a turma.
- Avaliação do dia: eis um momento onde podemos discutir o que deu certo e o que não deu, buscando soluções em conjunto para pontos que ainda possam ser melhorados. Também é possível avaliar o dia dentro do ambiente virtual. Podemos utilizar o site Mentimeter, um recurso para a criação interativa de perguntas, palavras, nuvens de ideias. Você poderá solicitar, por exemplo, que a turma avalie a aula em uma palavra que formará a nuvem e depois discutirão o que apareceu. Além disso, outras opções para avaliação do dia podem ser comentários no chat, respostas coletadas em um formulário ou em uma roda de conversa ao final da aula. Esta é uma forma de construir o dia a dia a partir do feedback dos alunos.
- Assembleias: as assembleias de classe são uma excelente oportunidade para exercitar o protagonismo. Nelas a turma precisa buscar as melhores soluções para os problemas que enfrentam.
- Trabalho em grupo: uma excelente estratégia, em que os alunos exercem diferentes habilidades e competências que os tornam protagonistas do seu próprio aprendizado. É lógico que as crianças precisam aprender a trabalhar em grupo e para isso precisamos ensiná-las. E elas aprenderão se este momento estiver sempre presente na nossa rotina. Trazer jogos e situações-problemas para serem resolvidos em pequenos grupos e depois levar para discussões no grande grupo são oportunidades para que os alunos possam colocar em ação a argumentação, a criatividade, a empatia, a cooperação, entre outras habilidades. Entendendo a importância do trabalho em grupo, o professor garante colocar em prática até mesmo no ensino remoto. Criar grupos a partir das salas virtuais é uma possibilidade, como as salas simultâneas no Zoom, por exemplo. Logicamente as regras precisam ser também construídas a fim de facilitar o bom andamento dos trabalhos.
- Projetos: o trabalho com projetos é uma estratégia que permite o desenvolvimento do protagonismo desde que envolvam os alunos no planejamento e nas diferentes etapas. Lembro de que em uma turma de 3º ano do Fundamental, trabalhávamos com projeto, escolhendo com as crianças o tema para cada bimestre. Para elencar os assuntos cada um deveria justificar o porquê da sua escolha. Na sequência organizávamos as etapas do trabalho, na qual entrava a pesquisa, a discussão e a apresentação para o grande grupo. Ainda guardo na minha memória os estudos sobre os vulcões e a origem do universo, nos quais os grupos puderam trabalhar juntos e aprender muito. O ensino por meio de projetos (presencialmente ou não) é uma opção do professor que acredita na construção do conhecimento e de significados na aprendizagem.
- Tecnologia: usar diferentes recursos tecnológicos, que ganharam maior destaque com a pandemia, mostra o quanto a aprendizagem pode ficar mais significativa a partir das boas intervenções do professor. Além disso, eles permitem que os alunos possam protagonizar a sua própria aprendizagem, colocando em jogo o que sabem e aprendendo novos conceitos. Exemplos desses recursos podem ser os diferentes jogos virtuais, criação de podcasts, vídeos de apresentação de temas estudados a partir de diferentes aplicativos, seminários usando o PPT ou Google Apresentação, entre outros. Sem falar no uso das metodologias ativas que permitem, de uma forma mais direta, o desenvolvimento de diferentes aspectos do protagonismo.
Enfim, caberá a cada profissional, a partir das suas vivências, analisar a sua prática e como protagonista que também é, encontrar as melhores estratégias e propostas que permitam aos alunos assumir o papel principal em práticas realizadas dentro e fora da escola.
Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/20150/colunas-pedagogicas-21-selene-coletti-protagonismo-do-aluno-conheca-6-praticas-para-desenvolver-no-dia-a-dia
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